Eu sempre tive problemas com minha imagem. Sempre. Na escola eu já me achava estranha. Não gostava das mesmas roupas que as outras meninas, meu cabelo sempre foi armado e com uma forma indefinida, já era a mais alta da sala, já tinha os ombros largos, o quadril largo, as cochas largas. Eu usava aparelho e no ensino médio comecei a usar óculos. Sem contar as espinhas. E as crianças daquela época usavam dessa minha insegurança para me fazer sentir pior. Eu já tive diversos apelidos maldosos. E para piorar, eu tinha tiques nervosos, piscava muito os olhos, coisa que faço até hoje quando me vejo numa situação de desconforto.
Com o tempo eu fui engordando, eu cresci mais, meu cabelo ficou ainda mais bagunçado e eu precisei passar a usar óculos vinte e quatro horas por dia. E aquela insegurança só foi piorando. Eu tenho um amigo que sempre diz que ele fica muito feliz que cresceu porque ele era muito feio quando mais novo. Eu não sinto esse mesmo alívio, na minha cabeça, eu ainda sou aquele patinho feio perdido no meio de vários cisnes. Ainda não consegui me livrar daquela imagem da escola, quando me olho no espelho é aquela menina que eu vejo. E aquela época teve consequências irreversíveis na minha vida. Eu não consigo não machucar os meus braços, que é uma forma de tique nervoso que começou no ensino fundamental. Já tentei de diversas maneiras, já fiz mil tratamentos, mas as manchas vão sempre existir e sempre que eu estiver nervosa eu vou voltar a me machucar.
O fato é que eu ainda não me sinto encaixada. Hoje em dia eu ainda posso focar em outras partes da minha vida, como meus estudos, mas a minha insegurança e insatisfação com a minha aparência ainda me impedem de fazer muita coisa e de ser muita coisa que eu gostaria.
Isso tudo é pra dizer que quando você cresce seus problemas internos não simplesmente desaparecem. E existem ainda pessoas que vão continuar alimentando todas essas suas inseguranças. O pior é que essas pessoas, quase sempre, são seus amigos. Quer dizer, são ex amigos, porque amigo de verdade não faz esse tipo de coisa. E eu descobri uma forma fácil de acabar com isso, acabe com essas amizades. Eu tinha amigas que me faziam pensar que eu era pior que elas, e que até hoje, as vezes, me falam algumas bostas. Só que elas não sabem que na verdade quem está mal são elas.
Não se deixe levar pelo que dizem sobre você. Pessoas invejosas sempre vão tentar diminuir as outras e fica ainda mais fácil quando são pessoas inseguras como eu.  Se você se encontra nessa situação converse com alguém, abra seus medos para as pessoas que você confia e livre-se de quem te faz mal.
A gente precisa aprender a ser quem queremos ser, independente do que os outros vão achar. Eu ainda não estou nesse nível, mas percebi que já está na hora de alcançá-lo.

Constantemente inha vida para de fazer sentido. Do nada meu cérebro entra num bug e tudo o que eu consigo fazer, por dias, é dormir e comer. Mas existem pequenas coisas que me ajudam a retomar a vida. Se você passa, ou está passando por isso, aqui vão minhas dicas para te ajudar a voltar a ver sentido na vida. 

Escrever o que está acontecendo comigo me alivia muito mais do que conversar com as pessoas, porque nem sempre eu consigo me expressar direito falando, e nem sempre eu encontro alguém com quem tenho total abertura para falar TUDO o que eu estou sentindo. Sem contar que é da natureza das pessoas não entender o que o outro está sentindo, aí que escrevendo não existe aquela chance do caderno te dizer algo que você não gosta e você ficar pior.

    3. Assista filmes/séries adolescentes

Assisto sempre os mesmos: 10 coisas que odeio em você, Meninas malvadas, As vantagens de ser invisível, Rebelde, Confissões de uma adolescente em crise, Gossip Girl, A mentira, Garota mimada, Quatro amigas e um jeans viajante, O diário da princesa, Nunca fui beijada, Hoje eu quero voltar sozinho, De repente 30, Dirty dance. Tá ai a lista, escolha um, ou assista todos. 

   4. Corra, ou ande, ou qualquer exercício que te faça ficar cansado.

   5. Saia para comer em algum lugar diferente.

Novos ares sempre me deixam mais feliz.

   6. Tome uns vinhos.

Pesquise sobre vinhos na internet e saia para experimentá-los. Não começa a reclamar dizendo que é caro não, porque tem muito vinho bom que não é caro.

   7. Crie milhões de pastas no Pinteres.com e passe horas viajando lá. 

Por um acaso, para ver as minhas pastas é só clicar no link ali do lado ->

   8. Leia um livro que te faz feliz.

No meu caso é Harry Potter, Harry Potter consegue acabar com todas as minhas crises.

   9. Fique perto da natureza.

Isso funciona muito quando estou na casa dos meus pais, aqui onde eu moro não tem muita natureza, então eu arrumei umas flores para cuidar. Colocar a mão na terra sempre faz meu coraãço dar uma acalmada.

ANTES

 Minhas primas e minha irmã sempre foram mais corajosas que eu, ou talvez olhando daqui do futuro; menos responsáveis. E a maior prova era a facilidade delas em assistir filmes de terror de madrugada. Na verdade, elas assistiam com a luz acessa, no mudo e com a mão na frente. Eu nunca cheguei a ver esse filme ( eu nunca vi filme de terror nenhum), mas lá pelos meus 12 anos, O Chamado fazia um baita sucesso e botava medo em todo mundo. A diversão era assistir O Chamado...de luz acessa, com a mão na frente e no mudo. 

Mas como as três eram muito curiosas, isso não era o suficiente. Foi quando achamos um site que mostrava fotos e histórias de aparições de espíritos, além de acidentes famosos de avião e alguns "passo a passo" para aquelas brincadeira saudavelmente demoníacas do copo e do compasso.

A gente se sentava as quatro de frente pro computador, daqueles brancos enormes, que ficava em cima de uma escrivaninha com tampo de vidro, do lado da porta de entrada e de baixo da janela que dava pra rua. Não sei bem porque, mas essas bobeiras sempre aconteciam lá pro finalzinho da tarde e quando acabava já era noite e o medo era grande demais para que a gente conseguisse andar numa boa pela casa. Ou alguém gritava e todo mundo saía correndo assustado, ou um adulto aparecia e mandava a gente pro quarto.

Um dia nós tivemos a certeza do nível da nossa falta do que fazer. Acessamos o assustador.com e começamos a ler em voz alta a história de uma menina que morreu queimada na própria casa e que depois a alma dela virou fumaça, e tinha uma foto da fumaça. (Que nem de longe parecia um rosto, mas pra mente de quatro crianças tá valendo). Decidimos ousar e fomos para as fotos. Não durou muito. A essa altura eu já não me lembro que foto foi aquela, deve ter sido tão traumatizante que meu cérebro apagou, mas nós quatro gritamos juntas e tampamos nossos olhos com as duas mãos. Passamos meia hora discutindo quem ia destampar os olhos para desligar o computador. - DESLIGUEI ...DESLIGUEI O COMPUTADOR. - A Ana tinha gritado e em um segundo a sala se livrou do barulhão do CPU funcionando.  A tela estava preta outra vez, mas a imagem do assustador fez nós quatro termos pesadelos a noite toda.

Não ligamos o computador pelo resto do fim de semana.  Não falamos sobre fantasmas e deixamos acesas todas as luzes da casa. 

É claro que no final de semana seguinte nós fizemos de novo. Levamos mais um susto, alimentamos nosso medo e nos tornamos adultas com uma total incapacidade de lidar com o escuro. Antes disso, antes de O chamado, as referências aos fantasmas eram poucas, não assustavam o bastante. 

Anos depois, minha prima mais nova começou com umas histórias de que ela ouvia coisas estranhas pela casa, de repente estavam todos falando sobre espíritos. 

A morte nunca mais deixou de ser um assunto no meu subconsciente. Eu sempre levei esses questionamentos pra minha vida. A Amora dos meus 12 anos sentia uma escuridão terrível no peito quando pensava no assunto, saia abraçando todo mundo, dizendo que amava, ficava realmente perturbada. 

Eu vivi inúmeras situações bizarras com minhas primas e minha irmã, mas essa em particular despertou em mim um tipo de pensamento que as outra passagens não trouxeram a tona. 

Acho que esse foi o começo de toda a brisação que acontece na minha cabeça.

*A Amora tem repensando toda a sua vida desde que ela foi parar na delegacia depois de um (pequeno) surto. Você pode acompanhar suas outras histórias se clicar em "história 1" aqui do lado. 

Meu primeiro blog falava muito sobre amor. 

Personagens apaixonadas, borboletas no estômago, faíscas e o rítimo do coração. A autora daquele blog ainda não tinha saído de casa, não tinha conhecido tanta gente. Ela ainda não havia se apaixonado. Nem por outras pessoas, nem por situações, nem por lugares, nem por causas, nem por ideias. Ela escrevia sobre o amor, mas não sabia quase nada sobre ele. E não passava pela sua cabeça as tantas formas de amor que ela chegaria a conhecer.

Isso são tira nenhum pouco da importância do amor romântico na sua vida, apenas expande a importância do próprio amor. Ou do amor próprio, também funciona se inverter a frase assim. Aliás, aquela escritora ainda não entendia nada sobre esse amor próprio.
Já se foram quase três anos desde que escrevi meu último conto naquele blog. Aquelas mãos ainda são as mesmas, mas as sinapses que as coordenam já não reagem às palavras da mesma forma que antes. Na verdade, eu mau sei como reagir atualmente. E foi por isso que parei durante tanto tempo. Porque não sabia mais quem era que escrevia. Ainda não sei. Mas decidi descobrir. Porque se tem uma coisa que eu sei é que escrever faz parte de quem eu sou e toda vez que eu deixo de fazê-lo, eu deixo de existir por inteiro.
Ainda escrevo sobre amor, só que sobre outros amores. Outros rítimos do coração. As faíscas e borboletas ainda existem, mas por outros motivos. Se quiser conhecer esse blog antigo, essa Amanda antiga, o link é esse aqui -> barradosno-baile.blogspot.com e seja bem vindo ao meu passado.

Adolescente é uma espécie absurdamente cruel. Eu gostaria de ter chegado a essa conclusão na época, para não ter me importado tanto, infelizmente, a ficha só caiu depois que entrei na faculdade. Até lá eu aguentei os sete piores anos da minhda vida.

Eu já quis desistir da escola. Já fingi muito que estava doente para que meus pais pudessem me tirar da aula. Já passei todos os quinze minutos do intervalo sentada no banheiro esperando acabar. Já ouviu falar daquelas pessoas que arrancam seus próprios cabelos quando se veem em uma situação de estresse? Meu caso é quase esse, só que eu machuco minha pele do braço. Por isso ele é todo cheio de manchas. 

Isso começou na sétima série, quando tudo o que te falam rebate em você com muito mais força do que veio. Não por você ser forte ou fraco, mas por você ser jovem. 

Eu ainda faço tratamento para parar com isso, cinco anos depois de a escola ter terminado. Tudo o que fazemos tem consequências. Não ouse dizer que bullying é normal e não deve ser levado a sério. Você só diz isso porque toda a pessoa que você é hoje, provavelmente, não foi construída com base no tratamento que um bando de adolescentes te deu por sete anos. Se aconteceu com você, desculpe a sinceridade, mas você deveria ter crescido e se tornado uma pessoa consciente e não um babaca. 

Claro que hoje eu sei o que eu deveria ter feito, mas a gente sabe quase nada com treze anos de idade. Os adultos não nos dão ouvidos, os professores estão de saco cheio da gente e nossos amigos só querem ter uma vida escolar pacífica. Eu só conheci umas duas pessoas que tentaram parar com as brincadeiras, todo o resto não ousava se arriscar. Eu entendo vocês agora. O que não os livra, de forma alguma, da culpa maior. 

Eu decidi escrever sobre isso só agora porque essa Amanda construída no ensino médio, cinco anos atrás, está prestes a ser completamente destruída e o novo eu precisa se livrar de todas as sujeiras que atrapalhavam o caminho da antiga. 

Vou escrever SIM milhões de textos sobre o assunto. Eu avisei antes que ia usar esse blog como, praticamente, um depósito de ideias. 

E caso você tenha vivido essa situação ou a esteja vivendo, continua lendo os próximos, espero que consiga tirar algo de bom deles.

O Joaquim só queria uma namorada.

A Letícia não acreditava no amor.

Um dia eles se esbarraram; tomaram café juntos depois de uma semana; dali um mês estavam namorando.

Joaquim a apresentava para todos, comprava-lhe flores, afagava-lhe os cabelos, sempre dizia o quanto a amava.

Letícia ria, conhecia gente nova e passeava. Ele tinha uma namorada, só que ele ainda não acreditava no amor. 

Certa vez, Letícia inscreveu-se em um mini curso de bolos. Começou a encher a casa com eles. Espalhou pros amigos, começou a vendê-los.

Separou-se de Joaquim. O rapaz não entendeu. Letícia não quis mais Joaquim, pois havia encontrado o amor.

Eu faço faculdade de humanas e por isso meus dias se resumem a ler, basicamente. E não necessariamente são leituras agradáveis. Nos últimos dois anos eu percebi que vinha deixando pra trás meu hábito de leitura e isso me fazia falta. Só que como meu curso é recheado de textos e mais textos eu decidi voltar a ler do básico, com aqueles livros de romance adolescente, e eu estou amando. Já devorei dois desde o começo do ano, seu sei é pouco, mas dá um desconto gente, a coisa que eu mais faço na vida é ler, não é tão simples quanto parece. 

Quero deixar claro que isso tudo começou porque uma amiga me deu essa lista com vários livros do gênero e como eu queria ignorar as provas que estavam chegando eu levei a lista a sério.

Caso você esteja desesperado para escapar do mundo um pouco e mergulhar em histórias leves amorosas aqui vão duas sugestões.

MEU ROMEU, Leisa Rayven

Meu Romeu é um romance bem assanhadinho, não é toda aquela coisa açucarada não. O casal principal está cursando artes cênicas em uma academia fodona e aí eles ficam brigando, se pegando, brigando de novo. Mas o livro começa do fim. A Cassie se vê fazendo um par romântico em uma peça importantíssima com o mesmo cara que uns anos atrás partiu seu coração. Eu li até o fim porque queria muito saber o que aquele jovem irresistível poderia ter feito de tão ruim. É um bom livro, divertido e leve e ótimo para te afastar dos seus reais compromissos.

E ele está disponível por R$ 16,90 na Amazon ->Meu Romeu - Amazon

FANGIRL, Rainbow Rowell

Vou confessar que achei a personagem principal uma chata. Eu só continuei a ler porque surgiu o típico romance que faz eu me sentir toda romântica, e oqual ela não merecia porque a Cath é uma garota insuportável. Minha amiga que indicou esse livro me disse que Cath a lembrava de mim, olha amiga, não sei e podemos mais ser amigas. 

O romance é imprevisível, é fofo, é inspirador, e o par romântico dela poderia muito bem ser o meu par romântico, obrigada. Leiam, vale a pena. 

Fangirl já é um livro mais carinho, tá saindo por R$ 27,90 tanto na Saraiva quanto na Amazon -> Fangirl - Saraiva, Fangirl - Amazon

Giovana é uma garota muito engraçada. Ela tem um ar de despreocupação com as coisas terrenas que faz a gente querer largar tudo e virar hippie. A Giovana tem um cabelo cor de chocolate que parece flutuar ao seu redor quando ela anda. As suas saias compridas e seus colares de pedra só ficam bons nela mesmo, não tente usar igual, você ficará ridícula. E não a chamem de Gi, seu nome é G-I-O-V-A-N-A, e quando você o pronuncia ele vem carregado com todo aquele ser que é Giovana.

- Namoro é perda de tempo- Ela repete, mas é raro vê-la beijando nas festas. Giovana não acha que namoro é bobagem porque ela quer passar o rodo. Ela é muito mais profunda que isso. Ela acha que namoro vem com o tempo, que essas coisas acontecem e que ela prefere não focar sua vida nessa busca.

-Eu não quero me casar- Frase típica que ela só usa para causar desconforto na rodinha. Pra que entrar numa discussão se você não puder jogar uma polêmica?

-Eu nunca vou ter filhos- Diz a garota que já tem o nome para as duas crianças. 

Mas, por favor, não pense que Giovana é falsa. Ela só acha que se casar, ter filhos, namorar, são atos tão importantes que ela prefere, por enquanto, guardar para si. Ela não precisa que ninguém a aprove ou não. E, também, não precisa pensar nesse tipo de futuro. É claro que Giovana ama. Ela ama seus livros, ama o cheiro de terra molhada quando a chuva passa, ama discutir filosofia com seu tio e filmes com a sua mãe. Ela ama o som do atabaque todo domingo a noite. Ama criar ideias, contar pra todo mundo e depois esquecê-las. Ama seus cachorros, ama chorar de rir, ama conhecer a história das pessoas.

Giovana quer ser Giovana. Ela não quer pensar no que pode ou não acontecer. Ela só quer que aconteça. Não gosta de wifi e nem de responder mensagens no whatsapp, muito menos de tiar fotos para perfil. Seus amigos lhe dizem que ela é louca e que um dia vai queimar a lingua e namorar, se casar e ter filhos. Ela ri e diz que isso é impossível. Porque ela prefere levar na graça, do que criar expectativas. Ela chora com filmes de romance e todos a acham contraditória, mas é isso que ninguém entende. Giovana gosta de escrever sobre o amor ... mas existem tantas formas de amor.

Não tenho idade suficiente para sofrer de crise existencial, mas já faz tempo em que me encontro em uma. Tem meses que já não me identifico com as roupas que visto, os esmaltes que passo e as músicas que escuto. Não é de agora que ando percebendo as incontáveis coisas que deixei pra lá. Me lembro da última vez em que observei as estrelas com aquele ar de astrônoma amadora. Não faço isso desde 2014. Ainda não tinha parado para fazer a conta do número de pessoas que passaram por mim. Quantas ficaram e quantas tiveram que ir. Não vivi aventuras extraordinárias nos últimos tempos, não tenho histórias de superação que dariam filmes e que me levaram a essa filosofação repentina. Nada diferente daquilo que todo mundo um dia vai passar. É só que é a primeira vez que isso tudo acontece comigo. Pra mim foi estranho me olhar no espelho um dia desses e perceber que aquela imagem estava errada, que ela não era compatível com o que minha mente pensava. Foi ai que meu cérebro entrou em pane. Não dá pra saber exatamente quem eu sou, só consigo pensar em quem eu fui e me apegar a todas aquelas caractrísticas que eu amo muito, mas que já ficaram para trás. 

Tive uma dessas fases quando terminei a escola, o que já faz cinco anos, tempo demais para quem viveu tão pouco. Tem coisas que já não se encaixam mais nas minhas conversas, porque pra mim elas aconteceram faz muito tempo. Não muito tempo contando em anos, muito tempo contando em Amandas. Meu primeiro crush já faz muito tempo, meu ensino médio e meu primeiro beijo também, meu primeiro coração partido, minha primeira menstruação então...Na minha cabeça é como se todas essas primeiras vezes da adolescência tivessem acontecido a muito tempo. E olha que nem faz tanto tempo assim. 

Ainda não me sinto madura o suficiente para a vida adulta, mas também não me vejo mais reagindo a vida da mesma forma que eu fazia no ensino médio. Quantas bocas eu beijo ou não, se eu estou apaixonada ou não, quem está saíndo ou deixando de sair com quem, nada disso me importa mais. Aí é que minha mente entra em parafusos, porque eu não sei dizer claramente o que é que tanto me importa agora. 

Não sei mais escrever romances, não sei escrever sobre trocas de olhares e primeiros encontros. Não é que eu não sinta isso tudo, é só que agora eu sinto mais. 

Já tive um blog antes desse com milhões de textos de amor, dos quais me orgulho muito. Vocês podem conferir clicando nesse link http://barradosno-baile.blogspot.com.br/  Eu poderia ter simplesmente o reativado, mas preferi começar de novo. E para começar de novo o melhor seria mudar o nome, mas acontece que o novo nunca anula a nossa essência. Eu não sei bem do que se trata essa versão 2.0 do Barrados no baile, acho que vocês vão acabar descobrindo comigo. Só sei que aqui dentro existem milhões de histórias que precisam sair. 

E é claro, para marcar o início dessa mudança eu decidi cortar uma franja, depois de quase 16 anos desde a última vez em que tive uma. Aconteceu debaixo de muitos protestos e incertezas. E eu tenho certeza de que isso também vai acontecer com as próximas mudanças. E virão muitas. 

ANTES

Quando eu era criança, minha mãe dava aula em uma escola, não me lembro da idade das crianças, só sei que elas eram só um pouco mais novas que eu. E ela inventava de fazer apresentações de dança no final do ano. Não preciso nem dizer que ela enfiava eu e minha irmã nessa, isso quando não enfiava também nossas duas primas.

Uma dessas apresentações ficou muito marcada na minha mmória por conta do lugar onde costumávamos ensaiar. Era um antigo cassino da cidade, que tinha um salão enorme de festas com um palco maior ainda, um lustre cheio de cristais e os detalhes na parede e no teto pintados de dourado. Atrás do palco tinha um outro salão, que era onde ficavam os bastidores. E tinha de tudo lá. O lugar todo era meio abandonado e era cheio de umas coisas bizarras. Me lembro com certa dificuldade do lugar, mas sei que existia ali um bar todo montado, com todos seus utensílios no lugar, mas uma camada de sujeira cobria todos os copos e garrafas de bebidas. Aquele mini palco que era cercado por um monte de portas e bugigangas de teatro da época de ouro do cassino. E eu, no auge da minha criatividade, achava aquele lugar um absurdo de amedrontador. O chão era um carpete azul marinho todo puído. Aquelas cortinas cor de vinho, extremamente pesadas. Aquelas salinhas e caixas amontoadas, vai saber se não tinha um corpo escondido ali.

Um dia eu me recusei a ensaiar. Começei a chorar desesperadamente que queria ir embora. Eu olhava para aquele lugar e ele me dava arrepios. Eu não queria mais dançar, nem ficar ali, queria que meu pai fosse me buscar e me levasse pra casa. Minha irmã não dançou dessa vez, mas ela estava lá, e minha prima mais velha também. As duas ficaram em volta de mim, tentando fazer eu parar de chorar. Eu até soluçava. Só na faculdade que eu fui entender o que tinha acontecido comigo naquele episódio. Existia um motivo real para me fazer ter medo daquele lugar.

O importante, é a outra parte dessa história. O meu ataque passou e no dia seguinte nos apresentamos. E eu gostei muito daquilo.  Eu passei um tempo criando coragem pra dizer pra minha mãe que eu queria aprender a dançar de verdade. Ela me enfiou no balé, como toda mãe faz. Rosa saiu seis meses depois e eu continuei. E aprendi outras danças. E dei aula de forró. E passei muitos carnavais dançando forró na praça.

O engraçado é que eu sempre era figurante nas danças que minha mãe inventava. A filha da coordenadora era sempre a principal. O cúmulo pra mim foi quando todas nós tivemos que nos vestir de homem e ela era a única Carmen Miranda.

Em meio as umas palhaçadas e sua vida extremamente corrida, minha mãe sempre arrumou um jeito de desenvolver esse lado artístico meu e da Rosa. Eu posso não ter escolhido essa área para seguir como profissão, mas eu devo muito da minha criatividade a todas as coisas malucas que minha mãe botava eu e minha irmã para fazer. Inclusive, foi por causa da dança que eu conheci o motivo que me levou a ter um ataque e parar na delegacia.  Mas a Amora que se dançou vestida com um collant branco e asas de lantejoula ainda nem sonhava com o que viria a acontecer. Sorte a dela.

*Amora é uma moça muito interessante que tem muito para contar sobre a sua vida e sobre como aos trinta anos ela se viu no meio de uma delegacia. Para acompanhar o resto dessa história clique em "história 1" aqui em baixo e aproveite.

Um dia teve um apagão no bairro, algo muito comum nos anos noventa na cidade, e meu pai me chamou para ver uma coisa muito legal na varanda do quarto dele. O quintal e a rua estavam um breu. Fazia um frio de rachar e o seu estava cheio de estrelas. Meu pai me colocou em um banquinho para que eu pudesse ver toda a rua e começou a me contar sobre os bichos que apareciam na mata depois que anoitecia. Eu fiquei encantada com ele imitando os sons de cada animal (Sons que eu nunca consegui imitar, aliás). Até ele chegar no lobisomem. Não qualquer lobisomem, mas o de trançinha que andava pelo bairro e de vez enquando aparecia no quintal de casa. "Mas ele não faz nada não, não se preocupe, Amora, ele só gosta de chuvar os limãos do nosso Limoeiro" ele falava todo sério e fazendo sinal para que eu não fizesse barulho. " Eles costumam ter medo de gente, mas as vezes alguém dá sorte de ver eles". Eu nunca tinha ouvido falar daquilo, mas eu olhei mais afundo no breu lá em baixo e jurei ter visto um lobisomem de trançinha. De repente eles estavam por toda parte.

Meu pai me levou até o quintal e chamou a Rosa para ir junto, quando minha mãe perguntou o que estava acontecendo, ele apenas respondeu "Estamos caçando lobisomens", e como se fosse a coisa mais normal no mundo de se ouvir, ela deu uma piscadela e nos seguiu.

Meu pai e minha mãe foram tão convincentes naquele noite que até hoje eu não tenho certeza absoluta se lobisomens são reais ou não. Eles nos fizeram empoleirar nas árvores e nos escondermos atrás do furgãozinho abandonado. Eu me sentia insuperável. Se eu podia correr atrás de um lobisomem, eu podia fazer qualquer coisa.

Mais tarde, quando a luz voltou, a Rosa me disse que também viu as trançinhas do lobisomem e que ela esperava que ela conseguisse ver um inteiro da próxima vez.

Meu pai nunca desmentiu a existência deles.

Mesmo agora, nos meus recentemente completos trinta anos, ele ainda tenta me convencer de coisas que ele vê no mato a noite e de coisas que eu posso sim fazer, mesmo o mundo inteiro dizendo que é bobeira. E na maioria das vezes eu realmente acredito. Porque ele é o homem que me criou e me empoderou, ele nunca mentiria para mim.

*Amora é uma moça muito interessante que tem muito para contar sobre a sua vida e sobre como aos trinta anos ela se viu no meio de uma delegacia. Para acompanhar o resto dessa história clique em "história 1" aqui em baixo e aproveite.

ANTES

É claro que eu não me lembro de quando conheci minha irmã mais nova. Ela nasceu só dez meses depois de mim. Mas a lembrança mais antiga que tenho da minha vida é com ela. Rosa sempre foi a mais extrovertida das duas. Mesmo crianças era notável essa diferença. Lá pelos meus quatro anos ela tinha um cabelinho ralo com alguns cachos. Era pequenininha e gostava de se jogar no barro que formava no quintal depois das chuvas de janeiro.

Eu tinha acabado de chegar da escola e ela veio correndo me encontrar, me puxando pro quintal. Ela pulava e apontava para a amoreira. Minha mãe, que tinha nos acompanhado até lá, esticou os braços e pegou um punhado de amoras roxinhas e gorduchas. Minha mãe deu um pouco de amora para cada e Rosa enfiou todas na boca de uma vez. O rosto roxo de amora ela falou na maior alegria " Eu gosto de Amora ". Naquela época nenhuma de nós duas entendia direito porque eu tinha o mesmo nome daquela fruta tão diferente.

Anos depois, Rosa deixou escapar que sua fruta favorita era amora. Ela deu o maior escândalo quando meus pais quiseram cortar o pé de amora para arrumar o muro que estava caíndo. Acho que era a forma dela de dizer que gosta de mim.

Nunca cheguei a conhecer como é a vida sem ela. Muitas vezes, quando criança, eu quis que ela me deixasse em paz. Porque ela brigava comigo pelo controle da televisão, e mais tarde pelo computador da sala. Tivemos que dividir o quarto até meus dezenove anos e em várias ocasiões eu queria o quarto só para mim, mas ela não queria sair de lá.

Rosa brincou comigo de Três Espiãs Demais na rua da casa da nossa vó. Acreditou em mim quando eu lhe disse que era uma bruxa e que eu poderia ensiná-la se ela quisesse. Rosa me faz rir até hoje em todas as reuniões de família, mesmo quando o clima está pesado.

Nós passamos muitos anos brincando em volta daquela Amoreira. Já caímos diversas vezes de lá de cima e já balançamos muito no nosso pneu pendurado. Enterramos nosso cachorro lá. E eu já chorei muito debaixo dela.

Nós não conversamos todos os dias, e houve uma época muito difícil quando a comunicação entre a gente era completamente nula, mas eu sinto a falta dela todos os dias. É engraçado esse conceito de irmão/irmã. A nossa relação nunca foi exemplar. Não tínhamos os mesmos amigos e nem os mesmos gostos. E foi só com o tempo e com a idade que descobrimos a verdadeira amizade uma na outra.

O fato é que a Rosa sempre vai ser a pessoa com quem eu mais convivi na vida. E essa constatação tem lá sua carga de importância quando a gente cresce para descobrir a traição do nosso noivo com nossa melhor amiga.

*Amora é uma moça muito interessante que tem muito para contar sobre a sua vida e sobre como aos trinta anos ela se viu no meio de uma delegacia. Para acompanhar o resto dessa história clique em "história 1" aqui em baixo e aproveite.