Como eu conheci minha irmã

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ANTES

É claro que eu não me lembro de quando conheci minha irmã mais nova. Ela nasceu só dez meses depois de mim. Mas a lembrança mais antiga que tenho da minha vida é com ela. Rosa sempre foi a mais extrovertida das duas. Mesmo crianças era notável essa diferença. Lá pelos meus quatro anos ela tinha um cabelinho ralo com alguns cachos. Era pequenininha e gostava de se jogar no barro que formava no quintal depois das chuvas de janeiro.
Eu tinha acabado de chegar da escola e ela veio correndo me encontrar, me puxando pro quintal. Ela pulava e apontava para a amoreira. Minha mãe, que tinha nos acompanhado até lá, esticou os braços e pegou um punhado de amoras roxinhas e gorduchas. Minha mãe deu um pouco de amora para cada e Rosa enfiou todas na boca de uma vez. O rosto roxo de amora ela falou na maior alegria " Eu gosto de Amora ". Naquela época nenhuma de nós duas entendia direito porque eu tinha o mesmo nome daquela fruta tão diferente.
Anos depois, Rosa deixou escapar que sua fruta favorita era amora. Ela deu o maior escândalo quando meus pais quiseram cortar o pé de amora para arrumar o muro que estava caíndo. Acho que era a forma dela de dizer que gosta de mim.
Nunca cheguei a conhecer como é a vida sem ela. Muitas vezes, quando criança, eu quis que ela me deixasse em paz. Porque ela brigava comigo pelo controle da televisão, e mais tarde pelo computador da sala. Tivemos que dividir o quarto até meus dezenove anos e em várias ocasiões eu queria o quarto só para mim, mas ela não queria sair de lá.
Rosa brincou comigo de Três Espiãs Demais na rua da casa da nossa vó. Acreditou em mim quando eu lhe disse que era uma bruxa e que eu poderia ensiná-la se ela quisesse. Rosa me faz rir até hoje em todas as reuniões de família, mesmo quando o clima está pesado.
Nós passamos muitos anos brincando em volta daquela Amoreira. Já caímos diversas vezes de lá de cima e já balançamos muito no nosso pneu pendurado. Enterramos nosso cachorro lá. E eu já chorei muito debaixo dela.
Nós não conversamos todos os dias, e houve uma época muito difícil quando a comunicação entre a gente era completamente nula, mas eu sinto a falta dela todos os dias. É engraçado esse conceito de irmão/irmã. A nossa relação nunca foi exemplar. Não tínhamos os mesmos amigos e nem os mesmos gostos. E foi só com o tempo e com a idade que descobrimos a verdadeira amizade uma na outra.
O fato é que a Rosa sempre vai ser a pessoa com quem eu mais convivi na vida. E essa constatação tem lá sua carga de importância quando a gente cresce para descobrir a traição do nosso noivo com nossa melhor amiga.

*Amora é uma moça muito interessante que tem muito para contar sobre a sua vida e sobre como aos trinta anos ela se viu no meio de uma delegacia. Para acompanhar o resto dessa história clique em "história 1" aqui em baixo e aproveite.

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