Como meu pai me fez acreditar em lobisomem

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ANTES

Um dia teve um apagão no bairro, algo muito comum nos anos noventa na cidade, e meu pai me chamou para ver uma coisa muito legal na varanda do quarto dele. O quintal e a rua estavam um breu. Fazia um frio de rachar e o seu estava cheio de estrelas. Meu pai me colocou em um banquinho para que eu pudesse ver toda a rua e começou a me contar sobre os bichos que apareciam na mata depois que anoitecia. Eu fiquei encantada com ele imitando os sons de cada animal (Sons que eu nunca consegui imitar, aliás). Até ele chegar no lobisomem. Não qualquer lobisomem, mas o de trançinha que andava pelo bairro e de vez enquando aparecia no quintal de casa. "Mas ele não faz nada não, não se preocupe, Amora, ele só gosta de chuvar os limãos do nosso Limoeiro" ele falava todo sério e fazendo sinal para que eu não fizesse barulho. " Eles costumam ter medo de gente, mas as vezes alguém dá sorte de ver eles". Eu nunca tinha ouvido falar daquilo, mas eu olhei mais afundo no breu lá em baixo e jurei ter visto um lobisomem de trançinha. De repente eles estavam por toda parte.
Meu pai me levou até o quintal e chamou a Rosa para ir junto, quando minha mãe perguntou o que estava acontecendo, ele apenas respondeu "Estamos caçando lobisomens", e como se fosse a coisa mais normal no mundo de se ouvir, ela deu uma piscadela e nos seguiu.
Meu pai e minha mãe foram tão convincentes naquele noite que até hoje eu não tenho certeza absoluta se lobisomens são reais ou não. Eles nos fizeram empoleirar nas árvores e nos escondermos atrás do furgãozinho abandonado. Eu me sentia insuperável. Se eu podia correr atrás de um lobisomem, eu podia fazer qualquer coisa.
Mais tarde, quando a luz voltou, a Rosa me disse que também viu as trançinhas do lobisomem e que ela esperava que ela conseguisse ver um inteiro da próxima vez.
Meu pai nunca desmentiu a existência deles.
Mesmo agora, nos meus recentemente completos trinta anos, ele ainda tenta me convencer de coisas que ele vê no mato a noite e de coisas que eu posso sim fazer, mesmo o mundo inteiro dizendo que é bobeira. E na maioria das vezes eu realmente acredito. Porque ele é o homem que me criou e me empoderou, ele nunca mentiria para mim.
*Amora é uma moça muito interessante que tem muito para contar sobre a sua vida e sobre como aos trinta anos ela se viu no meio de uma delegacia. Para acompanhar o resto dessa história clique em "história 1" aqui em baixo e aproveite.

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